Eu estava por cima.
O carro era meu. O dinheiro era meu. A miúda era minha.
Alguém vai a pé para casa - disparei.
Acertando na “mouche”, ei-lo a arrumar a trouxa e a fazer de conta que se metia ao caminho.
Trinta quilómetros separavam-no da doçura do lar. Era uma questão de sair cedo para, a um ritmo normal, demorar seis horas a chegar.
Voltar a casa passava por alguma submissão de quem o não queria fazer a pé. Como tal, até parecia que ao mínimo deslize qualquer um dos outros teria o mesmo destino.
Alguém vai a pé para casa - disparei.
Acertando na “mouche”, ei-lo a arrumar a trouxa e a fazer de conta que se metia ao caminho.
Trinta quilómetros separavam-no da doçura do lar. Era uma questão de sair cedo para, a um ritmo normal, demorar seis horas a chegar.
Voltar a casa passava por alguma submissão de quem o não queria fazer a pé. Como tal, até parecia que ao mínimo deslize qualquer um dos outros teria o mesmo destino.
Não era verdade, nem eu o faria nunca.
Demorámos ainda algum tempo a arrumar a tralha e ei-los que partem. Camacho, já ia longe.
O dia terminara muito antes do entardecer.
Alguns remorsos tilintavam-me os sentidos e guiava vagarosamente, olhando com atenção a velha estrada que nos traria de volta. Esperançava-me encontrá-lo e abrir-lhe a porta do Mini, para minimizar o sucedido.
Encontrámo-lo mais à frente, espreitando-nos pelo canto do olho, sem alterar o passo e simulando não ligar à nossa proximidade.
Parei a seu lado, convidei-o a entrar mas tal não quis. O aparente orgulho aguardava um deslize de piedade e fiz-lhe a vontade. Recusado que foi o meu convite, atirei-lhe então uma nota de vinte escudos, muito dinheiro na altura, dez cêntimos hoje, que fez menção de não apanhar.
Mal o horizonte nos engoliu, voltou atrás, regurgitou o orgulho, cuspiu alegria e curvou-se aos vinte escudos.
O regresso estava principescamente assegurado.
Já perto da Sintra, uma viatura Audi, matrícula alemã novinha em folha, faz uma manobra perigosa ao ultrapassar-me. Não dei muita importância ao facto. Mais à frente voltei a encontrá-la. Seguia tão lentamente que tive de a ultrapassar. Voltou a provocar-me, repetindo a manobra. E assim foi por mais duas ou três vezes.
Já na recta do Cacém, ultrapassa-me novamente e de repente, trava. O choque foi inevitável. A pouca experiência, aliada ao nervoso da inusitada situação não teve engenho para domar o Mini e evitar o pior
Do acidente, resultaram pequenos ferimentos no Xico e danos materiais elevados, naquela amostra de carro.
Pá-tá-ti, pá-tá-tá e a discussão com o casal de emigrantes do Audi ficou-se por ali, empurradas que foram as culpas para os meus ombros.
Felizmente que o Mini estava em condições de poder circular. Voltámos à estrada e pouco depois estava na Amadora, à porta do Chafariz, duzentos metros afastado de minha casa. Por ali fiquei perto de uma hora, indiferente às pessoas que me conheciam e ali passavam.
O Zuca morava no prédio ao lado do meu. Confessei-lhe a minha ideia se algo corresse mal e pediu para me acompanhar, se esse fosse o caso.
Zuca há muito que perdera o pai. A mãe, era uma santa mulher e não interferia na vida do filho.
Pensando em como iria tornear o problema, resolvi ir para casa e falar com o meu progenitor.
Estou a vê-lo ainda quando em casa entrei, sentado num pequeno banco, martelo na mão, tentando colocar novos saltos nuns sapatos,
Levantou a cabeça, fixou-me nos olhos e nada disse. Não imaginava sequer que eu tinha tido um acidente.
Preparando-o para o pior, alvitrei:
- Pai, vamos falar de homem para homem!
De homem para homem? – repete e questiona ele. Já vais ver o que é falar de homem para homem!
Levanta-se e de martelo em riste, dirige-se para mim em tom ameaçador. Ficou-se por ali, porque bati com a porta e escapei-me a tempo.
Desci as escadas do primeiro andar, já a delimitar as fronteiras do resto do mundo.
Alguns momentos depois voltei a casa. O pai, continuava a martelar o sapato. O filho, a martelar um sonho.
Tomei um banho e vesti-me de fato e gravata.
As minha irmãs não estavam. A minha mãe, adorava a Deus na missa das seis.
Olhei para trás. Despedi-me de mim e parti à procura de nada.
Demorámos ainda algum tempo a arrumar a tralha e ei-los que partem. Camacho, já ia longe.
O dia terminara muito antes do entardecer.
Alguns remorsos tilintavam-me os sentidos e guiava vagarosamente, olhando com atenção a velha estrada que nos traria de volta. Esperançava-me encontrá-lo e abrir-lhe a porta do Mini, para minimizar o sucedido.
Encontrámo-lo mais à frente, espreitando-nos pelo canto do olho, sem alterar o passo e simulando não ligar à nossa proximidade.
Parei a seu lado, convidei-o a entrar mas tal não quis. O aparente orgulho aguardava um deslize de piedade e fiz-lhe a vontade. Recusado que foi o meu convite, atirei-lhe então uma nota de vinte escudos, muito dinheiro na altura, dez cêntimos hoje, que fez menção de não apanhar.
Mal o horizonte nos engoliu, voltou atrás, regurgitou o orgulho, cuspiu alegria e curvou-se aos vinte escudos.
O regresso estava principescamente assegurado.
Já perto da Sintra, uma viatura Audi, matrícula alemã novinha em folha, faz uma manobra perigosa ao ultrapassar-me. Não dei muita importância ao facto. Mais à frente voltei a encontrá-la. Seguia tão lentamente que tive de a ultrapassar. Voltou a provocar-me, repetindo a manobra. E assim foi por mais duas ou três vezes.
Já na recta do Cacém, ultrapassa-me novamente e de repente, trava. O choque foi inevitável. A pouca experiência, aliada ao nervoso da inusitada situação não teve engenho para domar o Mini e evitar o pior
Do acidente, resultaram pequenos ferimentos no Xico e danos materiais elevados, naquela amostra de carro.
Pá-tá-ti, pá-tá-tá e a discussão com o casal de emigrantes do Audi ficou-se por ali, empurradas que foram as culpas para os meus ombros.
Felizmente que o Mini estava em condições de poder circular. Voltámos à estrada e pouco depois estava na Amadora, à porta do Chafariz, duzentos metros afastado de minha casa. Por ali fiquei perto de uma hora, indiferente às pessoas que me conheciam e ali passavam.
O Zuca morava no prédio ao lado do meu. Confessei-lhe a minha ideia se algo corresse mal e pediu para me acompanhar, se esse fosse o caso.
Zuca há muito que perdera o pai. A mãe, era uma santa mulher e não interferia na vida do filho.
Pensando em como iria tornear o problema, resolvi ir para casa e falar com o meu progenitor.
Estou a vê-lo ainda quando em casa entrei, sentado num pequeno banco, martelo na mão, tentando colocar novos saltos nuns sapatos,
Levantou a cabeça, fixou-me nos olhos e nada disse. Não imaginava sequer que eu tinha tido um acidente.
Preparando-o para o pior, alvitrei:
- Pai, vamos falar de homem para homem!
De homem para homem? – repete e questiona ele. Já vais ver o que é falar de homem para homem!
Levanta-se e de martelo em riste, dirige-se para mim em tom ameaçador. Ficou-se por ali, porque bati com a porta e escapei-me a tempo.
Desci as escadas do primeiro andar, já a delimitar as fronteiras do resto do mundo.
Alguns momentos depois voltei a casa. O pai, continuava a martelar o sapato. O filho, a martelar um sonho.
Tomei um banho e vesti-me de fato e gravata.
As minha irmãs não estavam. A minha mãe, adorava a Deus na missa das seis.
Olhei para trás. Despedi-me de mim e parti à procura de nada.